Bancários foram “recompensados” com 7,7 mil demissões em 2020
A pandemia do corona vírus tem contribuído para acirrar e iluminar as contradições que permeiam as relações de produção no capitalismo e perversidade do sistema com a classe trabalhadora, agravada em tempos de crise, como o que estamos vivendo.
As ações do segundo maior banco privado do país dispararam nesta quinta-feira (4) com a notícia de que auferiu um líquido recorrente de R$ 6,8 bilhões no quarto trimestre de 2020, o maior resultado trimestral da história do banco, com alta de 35,2% na base sequencial.
Notemos que isto ocorre num momento de alta da pandemia, em que os setores produtivos em geral acumulam prejuízos e falências. Reflete as “virtudes” da subordinação da economia nacional aos caprichos da oligarquia financeira, que há anos – faça chuva ou faça sol – não sabe o que é fechar o balanço no vermelho.
Seja lá como for, o fato provocou grande euforia no mercado, causando frisson nos acionistas, investidores e proprietários, que estão acumulando ainda mais capital e ficando mais podres de ricos durante a crise sanitária.
Para o bancário, demissões
Em contraste, os trabalhadores e trabalhadoras da empresa não têm razão para comemorar.
Tirando proveito da pandemia e do trabalho remoto, o Bradesco fechou 1.083 agências físicas em 2020. Em dezembro, a instituição contava com 3.395 unidades espalhadas pelo país, número 24,2% inferior ao registrado em igual mês do ano anterior. Além disso, foram demitidos 7.754 funcionários.
O banco encerrou o ano passado com um quadro de 89.575 pessoas, 8% abaixo do número de bancários e bancárias registrado no fim de 2019.
Aliás, a direção da instituição atribui o “lucro histórico” à política de demissões em massa, apelidada de “enxugamento”, que teria resultado num corte de R$ 3,2 bilhões, ou 6,6%, das despesas operacionais.
É a linguagem crua da eficiência capitalista, da qual o ser humano trabalhador é só uma mercadoria ou “um custo” a mais. Uma mercadoria que tem a particularidade – nos setores produtivos, conforme notou Karl Marx – de reproduzir o valor do próprio salário acrescido de uma mais-valia, que vem a ser a substância do lucro capitalista.
Quando esta mercadoria é considerado excessiva ou ociosa para as necessidades de reprodução do capital é descartada, como o bagaço da laranja da qual já foi extraído o suco.
Lucro e desemprego
No mesmo altar em que donos e acionistas do Bradesco celebram o lucro histórico foram sacrificados o emprego de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, chefes de famílias deixados ao deus-dará num mercado de trabalho congestionado pelo desemprego em massa.
O que esses seres humanos ganharam com a prosperidade do banco? A dor desta gente não frequenta o noticiário econômico da mídia hegemônica, que exalta e destaca unilateralmente o lucro astronômico e o alvoroço no mercado de capitais.
O Bradesco não teria prejuízo se preservasse o emprego de 7,7 mil bancários e bancárias durante a pandemia, embora provavelmente não lucrasse tanto na crise, o que é mais uma aberração do capitalismo brasileiro.
Consciência de classe
Mas o cuidado e a preocupação com a vida, a saúde e o bem estar do ser humano trabalhador não está no radar do sistema, cujo objetivo maior e exclusivo é a maximização dos lucros, conforme reiteram seus críticos. Pouco importa o sofrimento dos que, ironicamente, são hoje chamados de “colaboradores” ou mesmo “parceiros”.
O desafio dos que lutam pelos direitos humanos e contra a exploração é levar aos trabalhadores e trabalhadoras do campo e das cidades a consciência de que o capitalismo nada tem a oferecer aos povos além do crescimento da miséria, das aberrantes desigualdades sociais e a perspectiva de barbárie de guerras.
Por isto, é indispensável lutar para superar este modo de produção, que já deu o que tinha de dar à humanidade e deve ceder lugar a uma nova sociedade, uma sociedade socialista, que só se transforma de possibilidade em realidade através da luta revolucionária de milhões.
FONTE: Comunicação CTB - Umberto Martins