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Há décadas a ciência desenvolveu o processo de criação de alimentos feitos em laboratórios e modificados geneticamente, denominados transgênicos ou OGMs. No Brasil há cerca de 20 anos se deu início ao primeiro cultivo de produto transgênico, a soja, e a partir de então outras culturas seguiram o mesmo caminho, a exemplo do algodão, do milho e seus derivados, e hoje temos muitos produtos transgênicos na nossa mesa, como óleos de cozinha, extratos de soja, salchichas, margarina, leite, bolachas, cerais, entre outros. Contudo, devemos nos questionar: tanta variedade é para comemorarmos? Há controvérsias.
Ao longo do tempo a pauta dos alimentos geneticamente modificados abriu um amplo processo de discussão científica, social, política, ambiental e econômica, com opiniões contra e a favor da produção e consumo dos alimentos transgênicos.
Umas das controvérsias é que, na manipulação genética dos alimentos, são utilizadas substâncias que podem causar riscos à saúde humana, posto que, para evitar o ataque por insetos e ervas daninhas às plantações, os alimentos transgênicos costumam ser modificados para serem mais resistentes aos agrotóxicos, o que permite aos produtores um uso ainda maior de herbicidas, razão pela qual passamos a comer alimentos com altas doses de toxinas, o que, ao longo do tempo, podem causar graves problemas à saúde humana, como alergias, resistência aos antibióticos, e até mesmo a redução da fertilidade. O fato é que, de uma forma ou de outra, continuamos a consumir alimentos transgênicos, seja por possuírem preços acessíveis, ou pela falta de conhecimento de uma parte da população acerca dos males que podem causar à saúde.
Nesse contexto polêmico da produção e consumo dos OGMs, e com o discurso do “avanço da ciência sem crenças”, o laboratório argentino Bioceres desenvolveu recentemente uma variedade transgênica de trigo tolerante à seca, o HB4, com as promessas de aumento de produtividade de 40% em relação à outras variedades de trigo existentes em situações de restrição hídrica e salinidade do solo, e de manter as mesmas qualidades nutricionais do trigo tradicional. A discussão chega ao Brasil devido ao condicionante de que a companhia Bioceres só poderá iniciar a comercialização do trigo transgênico na Argentina quando a semente for autorizada pelo governo do Brasil, hoje o principal importador de trigo daquele país.
Assim, o trigo HB4 foi pauta de avaliação na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) no Brasil, que realizou na quinta-feira (22/10) uma audiência pública, cujo o objetivo foi ouvir posicionamentos das empresas que formam a cadeia de trigo no país (ABIP, ABIMAPI, ABITRIGO), da Embrapa, de pesquisadores de genética vegetal, sendo que na citada audiência, por razões ignoradas, não houve a participação de entidades representantes do(a) consumidores(as).
As empresas que compõem as cadeias do trigo foram unanimemente contrárias à comercialização do trigo transgênico no Brasil, sob o argumento de que não há demanda no mercado interno, com forte rejeição de grande parte mercado consumidor no pais, posto que cada vez mais a população se preocupa com a qualidade da alimentação, e se posiciona contra o uso de agrotóxicos nos alimentos e o consumo de transgênicos.
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No caso do novo trigo argentino (HB4), a planta modificada o torna resistente ao agrotóxico glufosinato de amônio, podendo receber altas doses deste veneno, produto tóxico, proibido na União Europeia. Na audiência foi apontado o fato de que há ausência de estudos conclusivos sobre o impacto do uso do glufosinato de amônio no trigo transgênico e suas consequências à saúde da população. Ao final, o presidente da CTNBio, Paulo Barroso, afirmou que a análise da biossegurança do HB4 ainda não foi iniciada pelo governo brasileiro, e que a comissão está na fase preliminar de coleta de dados sobre o assunto.
A CONTAG, suas Federações e Sindicatos filiados acompanham atentamente essa discussão através de sua Secretaria Nacional de Meio Ambiente, e reafirma seu posicionamento de confiar na ciência, por isso defende que antes de o governo brasileiro tomar qualquer decisão pela aprovação da comercialização e produção do trigo transgênico, é necessário aprofundar os estudos sobre os impactos ao meio ambiente, bem como as consequências do consumo de mais um alimento modificado geneticamente à saúde humana.
“Independentemente do lobby das multinacionais pela comercialização de alimentos geneticamente modificados, sobrepondo os interesses econômicos à vida e saúde da população, nós, como consumidores(as), temos a possibilidade de comer alimentos saudáveis, pois a substituição dos alimentos transgênicos pelos orgânicos e/ou agroecológicos só trará benefícios à saúde e ao meio ambiente, com muito mais qualidade de vida, razão pela qual a CONTAG tem como uma de suas bandeiras de luta a efetivação de políticas públicas de fortalecimento da agricultura familiar para produção de alimentos agroecológicos. Alimentos transgênicos: estamos de olho”, pontua a secretária de Meio Ambiente da CONTAG, Rosmarí Malheiros.
FONTE: Comunicação CONTAG - Barack Fernandes, com informações da Secretaria de Meio Ambiente da CONTAG